Pesquisadora brasileira criou método alternativo para retirar metais pesados da água, reaproveitando o ‘lixo’ e também o resíduo retirado dos rios. Cadeira cativa no cardápio e no vocabulário dos brasileiros, a banana ganhou uma nova utilidade com a pesquisa da mestra em química, Milena Boniolo, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP (Ipen): despoluir cursos d’água. Segundo a pesquisadora, a casca da fruta pode ser usada para retirar metais como urânio, cádmio, níquel e chumbo da água. Se ingeridos, estes elementos não deixam o corpo e podem causar uma série de problemas, incluindo o câncer. A pesquisadora conta que um caminho cheio de coincidências à levou ao resultado atual. Primeiro ficou sabendo que utilizavam palha de arroz para remover corante da água na Índia. Começou a pensar no que podia ser reaproveitado na mesa brasileira, e então viu numa reportagem que 400 toneladas de casca de banana vão para o lixo todos os dias em nosso país. “Era a solução sustentável que eu procurava, porque, além de resolver o problema da contaminação da água por metais pesados, ela agrega valor a algo que consideramos lixo, sem ser, e que ajuda a lotar ainda mais nossos aterros sanitários”, explica Milena, em entrevista ao blog Planeta Sustentável. Farofa de casaca de banana? “Todo metal é indestrutível. Em alguns casos, é possível, apenas, gerar subprodutos a partir dele, mas nunca destruí-lo. O objetivo da minha pesquisa é transferir o metal de lugar. Ao concentrá-lo na casca da banana, consigo tirá-lo da água”, diz a cientista. Para tanto, a casca fica ao sol por alguns dias e depois é triturada e peneirada, para virar uma farofa. Uma vez na água, essa farofa atrai os metais pesados para si, naturalmente, e é possível retirá-los da água presos ao pó. Depois, um banho de ácido separa os elementos: os metais vão para reutilização enquanto a farofa de casca de banana volta para água, a fim de continuar a limpeza. Alternativas mil Não é a primeira vez que alguém pensa em um novo uso para a banana (ou parte dela) – e provavelmente não será a última. Na África, restos de banana, incluindo as cascas, são transformados em combustível p[ara gerar energia elétrica. Assim, são queimados nas termoelétricas no lugar da lenha comum, evitando o desmatamento. Mesmo no Brasil, existem diversas outras utilizações para a fruta, incluindo a culinária. A princípio parece óbvio, mas hoje existem formas para aproveitar até mesmo bananas verdes, que se tornam um aditivo de nutrientes bem-vindo na alimentação tradicional. Da teoria à prática A pesquisa de Milena apresentou sucesso nos resultados, mas até agora não foi implantada na prática, apenas em laboratórios. Ela explica que o processo de limpeza pela casca de banana não é tão rápido e por isso não pode ser aplicado aos efluentes de qualquer empresa. “O objetivo da pesquisa não é tratar a água para deixá-la boa para consumo, mas sim ajudar as indústrias a descontaminar o recurso que poluem. Por isso, o que falta para aplicar a técnica em grande escala é uma empresa nova, disposta a implantar o processo, que dura cerca de dois anos, desde o início. Todas as indústrias que me procuraram já têm um passivo ambiental, ou seja, já poluem a água e, portanto, começar por elas é inviável, porque já são casos mais extremos e urgentes”, comenta. (Com informações de Planeta Sustentável).